segunda-feira, 12 de outubro de 2009

ONTEM PERDERAM TODOS


Não adianta estar com paninhos quentes e palavras de circunstância. Apesar do dito ontem pelos protagonistas principais, estas autárquicas constituem, no concelho de Tomar, uma derrota para todos. Passo a demonstrar. O PSD, após 12 anos de reinado, perdeu a maioria na Câmara e na Assembleia Municipal. Vai ter de enfrentar agora situações bem delicadas, para as quais manifestamente não está preparado, apesar das exclentes qualidades negociais de Corvêlo de Sousa.
O PS, após uma dispendiosa e longuíssima campanha de cartazes gigantes, meses e meses de blábláblá e, ao que diziam, um trabalho em profundidade de vários anos, ficou-se por mais 500 votos e mais um vereador. É demasiado pouco, para quem há quatro anos apresentara uma candidatura de recurso e foi repetidamente avisado a tempo e a horas. É no que dá ser deliberadamente surdo em termos políticos. O tal autismo...
Os IpT avançaram com grande ímpeto e fizeram uma campanha ainda mais cara que a do PS, com cartazes gigantes por todo o lado. De nada lhes valeu. Em quatro anos de intenso e profícuo trabalho, segundo o seu líder, conseguiram perder 500 votos e o segundo lugar no executivo. E logo para o inimigo de estimação -o PS ! O povo pode não entender muito de política mas demonstra uma excelente memória. Só não vê quem não quer.
A CDU depositou grandes esperanças em Bruno Graça, que ousou apresentar um esqueleto programático avançado, realista e em real consonância com as necessidades locais. Apesar disso, o resultado final foi decepcionante. Conseguiram apenas mais 252 votos que há 4 anos. Tendo em conta a crise que nos assola, cabe perguntar se realmente valeu a pena tanto trabalho.
O CDS também não escapou à regra. Embora com um programa arejado, um candidato ousado e jovem e uma campanha bem orientada, obteve apenas mais 413 votos em relação a 2005. Apesar de poder estar na origem da perda da maioria absoluta do PSD, temnos de concordar que é pouco para tantas esperanças.
O mesmo aconteceu com o Bloco de Esquerda e o seu enigmático "Juntar Forças". Subiram 157 votos, o que não chega sequer para pagar o papel dos cartazes. A mostrar que os candidatos podem ser bons, que as mensagens ambíguas passam cada vez com mais dificuldade. Sinal dos tempos.
O Tomar em primeiro lugar ficou-se pelos 736 votos, apesar de genuinidade da prestação de José Lebre, prova evidente de que o eleitorado tomarense continua agarrado ao que é em detrimento daquilo que poderia vir a ser. É pena, mas que se lhe há-de fazer !?
Finalmente, o concelho e algumas "cabeças de cartaz". Rejeitando os programas mais recentes e mais arejados, os tomarenses cuidam se calhar que conseguirão travar, ou pelo menos moderar, a marcha inexorável rumo ao futuro. Estão redondamente enganados, como a seu tempo vão perceber. Quanto mais tarde mudarmos de hábitos, mais difícil e dolorosa será a mudança. Que ninguém tenha dúvidas a este respeito.
Quanto aos assumidos pastores do rebanho nabantino, cheira a final de reinado por todo o lado. Miguel Relvas, apesar das suas proclamações de contentamento, é igualmente um derrotado, pois muito dificilmente poderá vir a ser o futuro presidente da Assembleia Municipal. Lá se vão anos e anos de uma teia pacientemente urdida. Lá se vai um regimento barroco, redigido sobretudo para calar a oposição da AM e os munícpes com coragem para ali intervirem. Não há mal que não se acabe. Nem bem que sempre dure.
Luís Ferreira, o mentor do PS local, é outro perdedor. Apesar de todo o trabalho que diz ter desenvolvido, não conseguiu sequer igualar o resultado de 2001. E deixou fugir 2800 votos do PS em quinze dias, pois Sócrates obteve no concelho 7559, contra 4756 para Ferreira e Vitorino. Se isto não é a condenação de uma política e da maneira de a fazer, então é o quê? E até nem podem alegar ignorância. Foram devidamente avisados o ano passado de que com aquele candidato, aquele programa e aquela prática seriam inevitavelmente derrotados. Agora não se esqueçam de vir outra vez com a estafada história do ressentimento, do mau perder, do rancor, e não sei mais quê.
Pelas bandas de Pedro Marques as coisas também correram mal, o que era previsível. Já há quatro anos ninguém percebera muito bem ao que iam os IpT e alguns cabeças de cartaz da CDU. Durante o mandato que agora termina, os eleitores ficaram ainda com mais dúvidas, pois manifestamente tanto Pedro Marques como Rosa dias tiveram uma actuação modesta, acomodada e muito àquem das expectativas. Nunca conseguiram transmitir de modo eficaz aos eleitores aquilo que se passava nas reuniões camarárias, ficando-se por vagas propostas, declarações de voto e declarações para a acta. Muita parra e pouca uva, afinal.
A relativa maioria PSD vai iniciar no próximo mandato a sua via dolorosa rumo ao calvário final. Perante uma situação de ausência de maioria, tanto no executivo como na assembleia, o que acontece pela primeira vez em Tomar, o trio liderado por Corvêlo de Sousa dificilmente chegará ao fim do mandato. A menos que as oposições se acobardem e prefiram partilhar o pouco que há para negociar, uma vez que nem uns nem outros dispõem de quaisquer programas minimamente adequados aos tempos que correm. Assim sendo, negociação caso a caso ? Mas isso é a chamada navegação à vista, sem rumo pré-determinado, que só por acaso poderá conduzir a algum ignorado porto de abrigo.
Em conclusão: Coragem, alegria e muito boa sorte para todos, que os tempos que aí vêm vão ser tudo menos fáceis.

4 comentários:

Unknown disse...

Outra leitura que se pode fazer é que 7959 pessoas estão conformadas e votaram PSD, mas 13750 pessoas disseram que não querem o PSD a governar a Câmara Municipal (para lá dos 1058 que mostraram o seu desacordo votando em branco ou nulo). Mas a Democracia também é isto, 7959 pessoas (uma minoria) a partir de hoje é co-responsável pelo destino de Tomar nos próximos 4 anos.

Luis Ferreira disse...

Caro Dr.Rebelo

Aprendi há muitos anos a respeitar a sua voz rouca e potente nos corredores do PS local, pelo que o continuo a ouvir, mesmo discordando, com agrado.

Agradeço o ipiteto que sempre me coloca, de ser o mentor do PS local. Exagero seu, como bem sabe.

Agradeço que me considere um derrotado, quando o PS subiu de facto, através da minha eleição, ao 2ºlugar, retirando a maioria absoluta ao PSD e constituíndo-se como a verdadeira alternativa ao pântano local, para o qual muitos têm contribuido.

Com a recuperação, pelo PS, da liderança do Médio Tejo, pela conquista das Câmara de Ourém e Alcanena, dará jeito que o PS em Tomar seja inteligente na gestão da expectativa que 21% dos nossos concidadãos têm.

Saberemos ser responsáveis por esses 21%. Por esses e não pelos outros 79% que não nos ligram nenhuma. Para a próxima e depois doq ue iremos realizar nestes 4 anos, irão muitos mais votar em nós, estou certo!

Um abraço socialista do militante nº11.175 (de 28/4/1983), que ontem foi indigitado, por eleição, para as funções de Vereador da Câmara Municipal de Tomar.

Até

Luis Ferreira
http://vamosporaqui.blogspot.com

templario disse...

Já agora, permitam-me uma opinião:

O comentador FERNANDO parece não saber encarar derrotas em democracia: o PSD, sem coligação, averbou estrondosa vitória contra os outros seis concorrentes, dois deles da sua área política (CDS e uma Lista de IND.), com fujões de última hora.

No meu modo de ver, há dois grandes derrotados, visto numa perspectiva de futuro: Os Independentes de PM e o Eng. Bruno Graça. Os primeiros porque, no mínimo, estagnaram, desceram mesmo e já não há mais futuro e pachorra para o seu "projecto". Só atrapalham, iludindo alguns milhares de pessoas, na medida em que tudo aquilo não passa de um projecto pessoal que agora estoirou.

Quanto ao Eng. Bruno Graça, defraudou as minhas expectativas. Pelos vistos, após dezenas de anos à frente da SFGP, está isolado. Será que a SFGP é aquilo que parece, logo na sua ampla entrada, com os serviços burocráticos e administrativos como numa repartição pública? Afinal o seu projecto pessoal que vem desde o antes Abril não lhe granjeou notoriedade e reconhecimento público. Lamento. O Eng. que não saia da GP, senão aquilo rebenta.

O PS até se saíu muito bem. Ganhou alguma coisa. Tem é um grande bico de obra para resolver para o futuro: o dos Independentes que elegeram 2 vereadores. Precisa de uma direcção política nova, de um responsável novo para a política autárquica. O actual nem devia tomar posse, antes avançar com outro, com outra abertura para resolver o conflito nos próximos tempos. Se fosse eu, através do PS, tentava negociar a coisa, arranjando um taxito para o ex-presidente dos Independentes para o tirar do caminho. Com paciência e bom senso.... as partes ganhavam.

A CDU e o BE tiveram a sorte que mereciam. Comportaram-se como em Lisboa e ficaram de mãos a abanar.

Mas vencedores são os vencedores. E o vencedor foi Curvêlo de Sousa e o PSD. Fico com a convicção de que os tomarenses decidiram bem.

Pensamentos soltos disse...

Nem todos, alguns ganharam, dores no corpo...